terça-feira, 7 de junho de 2011



A IMPORTÂNCIA DO ELOGIO



Texto que retirei do livro Cartas a Uma Noiva, escrito pelo ex-padre Dr. Anibal P. Reis, a quem tive a oportunidade de conhecer numa série de conferências em novembro de 1982, ocasião em que encontrei Jesus como meu único Senhor e Salvador. Á Ele, Jesus, toda honra e toda glória.

PSIU.... PSIU.... BONITÃO !!!!!!

Cinquentão. Testona bem larga pela avassaladora calvície. Barriga bojuda.
Psiu.... Psiu.... Bonitão !!!! Volta-se. É com ele mesmo. Chama-o uma mulher ...
Coração em disparada... Mente confusa...
Está brincando, moça? Veja lá! Não se cercam as pessoas na rua para zombar delas !

Não, senhor, não estou brincando. Você é bonitão. Lindo!! Charmoso. Não quero nada de você. Só lhe dar um beijo. Um só. Depois pode seguir o seu caminho...

O beijo ficou a lhe acariciar a bochecha direita. Os galanteios a bailar no coração festivo. ( Alguém, uma desconhecida, me acha bonito e charmoso. Ela me chamou de lindo... ).

Na manhã seguinte a necessidade o empurrou a passar pelo mesmo lugar. Demorando os passos. Cada vez mais lentos. Olhos espichados. Nada da moça. ( Quem seria ela ? Onde morará ? Que inexperiente! Nem lhe perguntei o nome o endereço. Burro que fui!! Teria sido uma visão ? );

Noutro dia o beijo ainda a lhe afagar a face empurra-o para o mesmo local. Passos lerdos. Pés quase parados naquele lugarzinho. ( Não, não é possível!!! Deliro. Deveria ter sido uma assombração. Encantadora assombração. Um sonho de mulher. Ela me disse: bonitão, lindo. Elogiou-me. É impossível que ela exista ... Como poderia achar-me bonito e charmoso ? Minha esposa que convive comigo, nunca mais me falou assim... ).

Psiu... Psiu....!!!!

Era ela... Repetem-se os elogios... Trocam-se beijos. Favorece-os a cumplicidade da sombra compacta de espessa trepadeira empoleirada no alto muro. Também se alguém os visse... Que se danasse... Os elogios se repetem. Parece-lhe sincera a moça. Trocam informações e endereços. Ela jura segredos porque ele é casado... Outro encontro combinado. Ela repele com energia qualquer suposição de interesse material. O único presente que ela quer é vê-lo e acariciá-lo.

Acontecem os encontros... Em lugar discreto.

O homem, passados os primeiros dias do idílio, se conturba. A princípio, de leve, agora cresce a preocupação... Desassossega-o o remorso. A esposa é uma santa. Trabalhadeira. Satisfaz-lhe as necessidades sexuais. Educada. Fina. Veste-se bem. Elegante. No altar ele lhe jurara fidelidade. É religioso.

Agita-lhe a alma a perplexidade. Como estava caindo ele nessa situação ? Seu conceito na cidade era de alta honorabilidade. ( Triste remorso que me poderia deixar em paz!!! ).

Decide esquecer a moça. Vâ resolução. Ela, como ninguém jamais o fez, elogia-o. Admira-o. Reconhece-lhe as qualidades. Vê beleza em seu corpo. Nada lhe pede. Muito menos dinheiro. Só quer acariciá-lo e dele receber carícias. Sente-se ela lizonjeada por receber a ternura do homem bonito, e charmoso.

O cidadão vai ao confessionário. ( O que o padre Anibal pensará de mim ? Zombará ? Irá me sensurar ? Na certa exigirá que a tudo dê fim e nunca mais esteja com a moça ).

Abre o coração. Padre, o sr. a conhece. É uma santa. Seria injusto se me queixasse dela. Só que nunca mais me elogiou. Não me admira. Em brincadeira diz que sou velho, careca, bananeira que já deu cacho. Ela só dá atenção aos filhos. Todas as expressões de exaltação são para eles. A moça não. Me elogia. Admira minha beleza. Chama-me de herói porque trabalho muito e sempre me sacrifiquei pela família. Minha esposa há mais de vinte anos não me admira. Tudo que faço é do meu dever. Nada merece uma observação de apreço...

Estranhou a atitude do vigário. Sugeriu-lhe este tratar do assunto fora de confissão. ( Por que será ? ) Foram à casa paroquial. Escritório de portas fechadas, o galã repete a história. Um tanto encabulado no começo. Também falar disso assim de cara a cara com o vigário! Este lhe fez perguntas. Tudo com muito respeito e seriedade. Pôs-lhe a mão no ombro. Descontraído prolongou-se a pormenorizar seus conflitos. Sua extrema necessidade de apreço e reconhecimento. O vigário não o censurou. Também não o apoiou. Nada de conselhos nem de "sermão". ( Que padre Anibal esquisito... Fiquei no ar... ) Veio o cafezinho. O sacerdote mudou de assunto. Política. Negócios. Futebol. A chuva ... Despediram-se. ( E eu com tanto medo do vigário. Só que não entendo o jeito dele. Saí como estava quando lá cheguei. Sem saber o que fazer!!! Sem ber levado sequer uma bronca ).

Oito ou dez dias depois, ao voltar do trabalho, a esposa o aguarda no portão. Vim esperá-lo para estar mais depressa com você ...

( Ai, ai, ai!!!! Ela já sabe de tudo. É a tempestade... )

Estava com saudades do meu maridinho. E para vê-lo mais depressa vim ao portão....

Lá pela metade do jantar observa : há quanto tempo venho sendo injusta para com você. Deixei de admirá-lo. É por força da convivência. Mas não recuso a responsabilidade de haver deixado de lado você. Você me perdoa ???

O homem caíra das nuvens. A esposa voltava a lhe dar aquilo de que mais ele precisava.

O idílio do antigo namoro se refez na poltrona seguida ao jantar.

Esqueceu a moça... A esposa lhe dava tudo. Também e sobretudo admiração. Respeito. Reverência. Ela voltou a aplaudí-lo. A homenageá-lo. Não havia mais lugar para a outra.

Como a esposa mudara tanto?? Da noite para o dia ?

Para não quebrar o sigilo do confessionário o Padre Aníbal quiz tratar o assunto extra-sacramento. Assim que pôde, em ocasião propícia e sem contar à esposa as aventuras do marido, aconselhou-a. Explicou-lhe sobre a necessidade premente do homem.